Decidiu recentemente regressar a Itália após 11 anos e tornar-se treinador do AS Roma. Qual é a principal estratégia que usa para tomar uma decisão tão importante como esta?
José Mourinho: Quando tomo grandes decisões, certifico-me de que tenho todas as informações de que preciso à mão. Esta é a melhor "tática" porque é impossível tomar qualquer decisão sem saber todos os detalhes e sem tempo para entendê-los.
Qual foi a maior decisão que tomou na sua carreira e como se preparou para tomar essa decisão?
JM: A maior decisão de toda a minha carreira foi tornar-me treinador de futebol. Decidi que queria essa carreira e dediquei-me de modo a ser o melhor que posso nessa área.
Quão difícil é usar os seus instintos/experiência comparativamente com a análise dos dados, quando os dois métodos dão respostas diferentes?
JM: Ambos [instinto e dados] têm um papel importante. Acho que se todas as decisões forem baseadas exclusivamente em dados, muitos fatores serão perdidos; os dados não fornecem uma imagem completa. Quando se contrata um jogador, não são apenas os seus dados estatísticos que interessam, mas também a sua mentalidade, o seu sistema de apoio, a sua ética de trabalho, que são tão importantes. Vê-se claramente que quando os jogadores vão para um grande clube, eles precisam ter a mentalidade certa para assumir a pressão e irem ao encontro das expectativas.
O elevado nível de pressão faz parte do trabalho de qualquer treinador de futebol, mas quando tal situação aparece repentinamente sem aviso prévio, que conselho poderia dar a alguém para ajudar essa pessoa a lidar com isso?
JM: Tudo se resume à preparação. É importante estar sempre preparado para todas as ocasiões, pois, desta forma, conseguimos adaptar-nos aos momentos de pressão, tendo em conta a nossa preparação e repetição.
Como lida com as suas emoções durante uma situação de alta pressão?
JM: Assim que o árbitro apita, estou apenas focado no jogo e no momento. Eu não penso sobre mim ou sobre as minhas emoções; eu penso sobre o que está diante de mim e o que precisamos fazer para nos adaptar ao que está a acontecer.
Qual foi a situação de maior pressão que enfrentou em toda a sua carreira?
JM: Para mim, cada jogo tem sempre pressão porque todos significam coisas diferentes. Existe pressão nos derbys, nas semifinais para chegar à final, na final para conquistar o troféu e na conquista dos 3 pontos para subir na tabela e não perder a posição. A melhor maneira de manter a pressão afastada é a preparação ser consistente e também as condições normais para que os jogadores não sintam nada de diferente.
Como é que lida com a pressão dos adeptos, dos jogadores e da imprensa?
JM: Não permitimos que as influências externas afetem o que fazemos dentro da equipa. A pressão está sempre presente no futebol, por isso focamo-nos no básico e na nossa preparação e mantemos o ambiente divertido, mas também comprometido e profissional.
Tanto nos investimentos como no futebol e no dia a dia, nem tudo corre sempre como queremos. Que dicas importantes poderá dar a alguém que lida com uma situação que não correu conforme planeado?
JM: Acho que é tudo uma questão de preparação; quando estamos preparados para todas as eventualidades, temos uma adaptação mais rápida e também elimina o elemento surpresa. Quando estive no Futebol Clube do Porto, disse à equipa que esperava empatar com o Manchester United, a equipa mais difícil do sorteio - e empatámos com o United, mas estávamos preparados para que corresse como esperávamos e não estávamos preocupados com o desafio que tínhamos pela frente.
Qual foi a situação mais importante da sua carreira que não correu como esperava?
JM: Acho que a maior surpresa pode ser quando algo corre perfeitamente de acordo com o planeado, assim como se previu, porque no futebol quase sempre se espera que algo aconteça para o qual não estamos preparados. Quando vencemos a final da Champions League com o Inter de Milão, foi um jogo perfeito nesse sentido. O que preparámos, executámos, e senti que sempre estivemos no controlo da situação.
Qual a importância de nos rodearmos das pessoas certas?
JM: É extremamente importante estar rodeado das pessoas certas e conto muito com a minha equipa técnica. As equipas hoje em dia são tão grandes e há tantas tarefas para um treinador que precisamos sempre saber que podemos manter os níveis de qualidade mesmo quando não estamos lá. Também precisamos ser desafiados e apoiados quando se trata de tomar decisões importantes para a equipa.